segunda-feira, 21 de janeiro de 2013



As Claras. 

Nada mais velho que o medo de ontem; disse ela para si um ano e meio depois. Cinco e sete da manhã, dois copos de café, um grito abafado do chuveiro frio, da boca que arranjou motivo pra tremer. Calças, não! Saia e blusa. Espelho contesta. Calça, blusa, sandálias de segunda mão, óculos, perfume. Buzina. Nada mais do que o medo de agora.
Janaína, que cantarolava o incantável Drummond, repetia; “João amava Teresa que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili que não amava ninguém”. Que não amava ninguém e saiu. De corpo presente ficou até um metro e setenta do chão. O chão atemporal do gostar, e disse para si, pois jamais se lembrou do dia. Daquele dia em que brincava com estrelas sentadas da manhã.

Nada mais novo que a vontade do agora; disse para si um mês e meio depois. Já não acordava na hora. blush, rímel, vontade tinha e não tinha mais. Desesperou-se. Encontrou alguém para gostar e se desgostou, para gostar do círculo da vida. Concentrou toda a felicidade do anoitecer. Saiu na temporalidade da noite.

José, que balbuciava os vernáculos em ponta do nariz, sussurrava em olhos tristes desejos imensos, desejos dela agora sentidos em carne dominada. Nada mais que o medo do pulso da verdade.

Na parede negra uns rabiscos.

Janaína pensava em mãos altas nas areias largas do muro, quase um corpo esculpido em alfabetos, nada mais do que o corpo dele emparedando as formas dela. Naquelas formas. Morava no interior. Ele. No interior de tudo, e carregava nos olhos tristes ondas do mar seco, que por oras enchiam-se d’água e de rugas com os baldes da saudade.

Janaína e José tinham tudo, amavam-se e queriam cada vez mais o outro do que a si. Não se completavam apenas entre as pernas dos óculos e a nuca do colar, entre eles cabiam apenas o sufocamento das paredes do céu. Entre José de peitos largos e Janaína pequena, coube apenas a essência do querer e o oceano do contar da boca dela. A boca que um dia se mordeu de desejo e que gritou na surpresa da insaciabilidade ao tê-la, mas agora bocas juntas olham a nada convenção deste amar, e Janaína grita a todo sonho; José, te espero.

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